domingo, 27 de fevereiro de 2011

Homeopata segundo Hahnemann

Acredito na perfeição, no ideal de perfeição, como aspiração máxima que o ser humano deve buscar ao longo da vida, seja em seu íntimo, conhecendo-se, lutando contra si mesmo em tendências, negatividades e impulsos, superando limitações, amadurecendo, evoluindo, transformando defeitos em virtudes, como também lapidando suas relações familiares, interpessoais e profissionais.
Não conheço um ser humano perfeito. Embora alguns queiram ser melhor que os outros, considero que somos todos iguais, sujeitos a erros e acertos, frágeis perante nossas próprias falhas e imaturidades.
Depois de muita peia da vida, hoje venho reconhecendo que preciso de Mestres, de quem me dê orientações, ensinamentos, correções, um norte nos momentos de dúvidas e incertezas, um amparo na dor e na solidão.
Na Medicina tenho alguns Mestres que vêm me dando a fundamentação técnica e filosófica para uma prática de acordo com o que idealizo deva ser um bom médico. Sei que o trabalho para ser um verdadeiro discípulo deles exige estudo constante, pelo reconhecimento de que quase nada sei e tenho muito a aprender. Percebo bem isso, quando leio este trecho de uma carta do Dr. Samuel Hahnemann (1755-1843), médico alemão que criou a Homeopatia, em que ele descreve como deve ser um médico homeopata.


Gilvan Almeida


“Busque um homem sensível, íntegro, que seja consciente do que estudou e do que sabe, que responda com clareza e precisão a todas questões que lhe competem; que não saia nunca do assunto e não fale se não é questionado; enfim, um homem que não permaneça alheio ao que lhe concerne, em especial a humanidade.
Escolha preferencialmente um médico que nunca seja grosseiro, que nunca se irrite a não ser perante uma injustiça; que não deprecie a ninguém, a não ser aos aduladores; que tenha poucos amigos mas todos eles de bom coração; que dê aos que sofrem a liberdade de queixar-se; que jamais expresse uma opinião antes de haver meditado bem; que prescreva poucos medicamentos, a maioria das vezes um único, e em substância; que se mantenha modestamente à margem, longe das multidões; que não silencie o mérito dos colegas e não elogie a si mesmo; e, por último, que seja um amigo da ordem e da tranqüilidade e um homem que ame a seus semelhantes e seja caridoso.
Uma coisa mais: antes de decidir, observe como se comporta com os enfermos pobres e se em seu gabinete, quando está só, se ocupa de trabalhos sérios".

Orientação do Dr. Samuel Hahnemann em carta a um príncipe europeu sobre como proceder para escolher um médico homeopata.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Abre-te Sésamo": desvendando mistérios da infância

Em minha infância, ao ouvir a estória de Ali Babá e os 40 ladrões, lembro de ter me perguntado muitas vezes qual era o "mecanismo de ação" das palavras "Abre-te Sésamo", pelo qual a porta da caverna cheia de tesouros se abria. Por que a porta se abria após as palavras serem ditas??? Esse era o grande mistério da estória que eu queria descobrir. Não encontrei a resposta.
Hoje encontrei esta simbologia que deu uma clareada.
Compartilho com vocês.

Gilvan Almeida

SÉSAMO: O sésamo é um fortificante tradicional chinês. Seus grãos fazem alcançar a longevidade. Esta palavra, Sésamo, ficou associada a uma fórmula mágica, a de “Abre-te Sésamo”, que Ali Babá pronunciava para abrir a porta da caverna misteriosa, na qual 40 ladrões guardavam as suas riquezas.(...) Do ponto de vista psicológico, o “abre-te sésamo” também tem a sua significação diante de todas as portas fechadas que são os seres, uns para os outros; basta uma pequena palavra mágica para que se abram, não só o coração, mas os caminhos secretos do inconsciente. O “Abre-te Sésamo” é o grito do chamado lançado à riqueza encerrada na caverna, seja este o grão nutritivo e fecundador, o cofre das riquezas materiais, o refúgio da revelação espiritual ou o labirinto do inconsciente.

Fonte: Dicionário de Símbolos - Jean Chevalier e Alain Gheerbrant

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Breve estudo sobre o tango

Se alguém perguntar o que me auxilia a sobreviver em momentos difíceis, e me faz viver melhor o dia a dia, certamente citarei a música.
A música é de fundamental importância em minha vida desde a infância, vivida em Rio Branco, Acre, em uma época que não havia televisão por aqui. Ouvíamos as duas rádios locais (Difusora Acreana e Novo Andirá) e também as rádios Globo (RJ) e Tupi (SP).
A programação das músicas nas rádios acreanas era bem eclética, indo dos forrós da Marinês, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, ao pop dos Beatles, Joe Cocker, Rick Wakeman; da MPB de Gal Costa, Betânia, Chico Buarque, Caetano Veloso, ao ritmo sulista de Teixeirinha e Mary Terezinha, passando pelo brega de Reginaldo Rossi, Valdick Soriano, Fernando Mendes, Diana, Odair José, além de boleros, salsas e mambos caribenhos. Destacavam-se também alguns cantores acreanos: Jorge Cardoso, J.B.Costa, Auricélio Guedes, dentre outros.
Não lembro quando, nem onde, o tango entrou em meu gosto musical e se tornou um dos prediletos. Recentemente, navegando pela internet, encontrei este pensamento de Enrique Santos Discépolo que me encantou, por dizer de forma tão concisa, simples e ao mesmo tempo profunda, o que sinto quando ouço um tango: “Tango é um pensamento triste que se pode dançar.”
A melodia nostálgica, como uma chave mágica, abre em meu sentimento as portas das reminiscências, especialmente aquelas indefiníveis e atemporais. Não é uma tristeza depressiva que sinto. Será que posso considerar um aflorar momentâneo das dores dos amores que não deram certo? Talvez sim. Ou é o revelar das fragilidades e carências dos seres humanos? Pode ser. Mas o que fica mesmo, deliciosamente, é aquela saudade de não-sei-o-quê.
Com a palavra Tango entrei em diversos sites, encontrei e li muitas coisas interessantes. Trouxe pra vocês um pouco do que gostei, junto com a música Por una cabeza, que considero um dos tangos mais bonitos. Faz parte da trilha sonora do filme Perfume de mulher, naquela cena antológica da dança do ator Al Pacino (em um papel de deficiente visual, que lhe deu um Oscar) com a atriz Chris O’Donnell. Esta versão é de Emir Kusturica (aquele iraniano diretor de cinema, que também é músico) e Goran Bregovic (músico e compositor sérvio-bósnio). Há outras versões também muito bonitas e anteriores a esta, de Carlos Gardel, Astor Piazolla e Andres Calamaro (autor da música): http://www.youtube.com/watch?v=NoDSuNUILH8&feature=related

“...Há a lenda de que a dança em si teria começado nas prisões entre os prisioneiros masculinos, que, uma vez livres, teriam ido viver nos bairros mais pobres de Buenos Aires. Nessa época inicial era dançado por dois homens, daí o fato dos rosto virados, sem se fitar. O Tango mescla o drama, a paixão, a sexualidade, a agressividade, é sempre e totalmente triste. Como dança é "duro", masculino, sem meneios femininos, a mulher é sempre submissa. Nas letras é quase sempre o homem quem sofre por amor, mas a culpa é sempre da mulher. O ritmo é sincopado, tem um compasso binário. A síncope é de uma nota tocada no tempo fraco que se prolonga até um tempo forte, o que movimenta a música e desloca acentuação do ritmo. ... O Tango foi considerado um Patrimonio Cultural da Humanidade da Unesco em 30 de setembro de 2009, em Dubai...” Wikipedia

Gilvan Almeida

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Contos de Nasrudin

Gosto muito desta figura, Nasrudin. Com seus contos leves, alguns aparentemente óbvios, e inteligentemente bem humorados, ele nos conduz a sérias reflexões sobre a vida.
É dito que ele viveu no século XIV, contou e escreveu histórias que atravessaram as fronteiras de onde vivia, nas quais ele próprio era personagem, tornando-se conhecido em diversas culturas no oriente. Pesquisei na Net e encontrei dois endereços legais sobre ele: http://nasrudin-humor.blogspot.com/ e http://www.nasrudin.com.br/index.htm
Já postei duas de suas deliciosas histórias. Leia em: http://gilvanalmeida.blogspot.com/2008/05/nasrudin.html
Aqui estão mais duas.

Gilvan Almeida

1. Nasrudin e o ovo

Certa manhã, Nasrudin colocou um ovo embrulhado num lenço, foi para o meio da praça da sua cidade, e chamou aqueles que estavam ali.
- Hoje vamos ter um importante concurso! A quem descobrir o que está embrulhado neste lenço eu dou de presente o ovo que está dentro!
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
- Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer esse tipo de previsões!
Nasrudin insistiu:
- O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que se parte facilmente. É um símbolo de fertilidade, e lembra-nos dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem é que me pode dizer o que está aqui escondido?
Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha um ovo na sua mão, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém quis passar vergonha diante dos outros.
E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido em seu redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava a querer fazer alguém passar por ridículo.
Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém respondeu.
Então ele abriu o lenço e mostrou a todos o ovo.
- Todos vocês sabiam a resposta - afirmou. - E ninguém ousou responder.

Reflexão: "É assim a vida daqueles que não tem coragem de arriscar: as soluções são dadas generosamente por Deus, mas estas pessoas sempre procuram explicações mais complicadas, e terminam não fazendo nada."

Fonte: Contos Sufi de Nasrudin

2.A Mulher Perfeita

Certa tarde, conta uma antiga história sufi, Nasrudin tomava chá e conversava com um amigo sobre a vida e o amor.
- "Por que você nunca se casou, Nasrudin?", perguntou o amigo.
- "Bem", respondeu Nasrudin, "para dizer a verdade, passei toda a minha juventude a procurar a mulher perfeita. No Cairo conheci uma moça linda e inteligente, com olhos que pareciam olivas pretas, mas ela não era muito cortês. Depois, em Bagdá, conheci uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tínhamos muitos interesses em comum. Muitas mulheres passaram pela minha vida, mas em cada uma delas faltava alguma coisa, ou alguma coisa estava demais. Então, um dia, eu a conheci. Era linda, inteligente, generosa e bem-educada. Tínhamos tudo em comum. Na verdade, ela era perfeita".
- "E então", replicou o amigo de Nasrudin, "o que aconteceu? Por que você não se casou com ela?".
Pensativo, Nasrudin sorveu mais um gole de chá e concluiu:
-“Infelizmente, parece que ela estava à procura do homem perfeito”.

Reflexão: “Como Nasrudin, quase todos nós queremos encontrar a perfeição fora de nós mesmos. Criamos em nossa cabeça a imagem ideal da mulher ou do homem que buscamos, projetamos essa imagem em cima do namorado ou namorada, da esposa ou marido, e queremos que ele ou ela corresponda a essa imagem. Ao alimentar essa expectativa utópica, perdemos a capacidade de entender e gostar do ser humano real ao qual nos ligamos. E, muitas vezes, como ele ou ela não podem corresponder a essa expectativa - pelo simples fato de que ela é produto da nossa idealização e dos nossos desejos fantasiosos -, acabamos, frustados, por rejeitar a pessoa com quem nos relacionamos, quase sempre sem ter sequer "conhecido" essa pessoa. Com uma mulher aconteceu algo desse tipo. Passou cinco anos casada, e deixou o marido quando percebeu que ele não se encaixava no modelo de príncipe encantado que ela cultivara desde a infância. Ele se casou novamente com outra mulher. Tempos depois, ao ouvir a nova esposa do seu ex-marido falar da vida feliz que levava com ele, e de todas as boas qualidades que faziam dele um esposo excepcional, a mulher - ainda solitária - ficou perplexa: "Parecia que ela falava de uma pessoa que eu nunca conhecera."
Certo, ela nunca o conhecera de fato, porque cada vez que olhara para ele, era capaz de enxergá-lo, mas não de vê-lo. Ao esperar que ele correspondesse ao modelo idealizado de homem que ela cultivara em sua cabeça, perdera contato com a realidade do homem com quem se casara. Uma realidade que, possivelmente, podia ser até muito melhor do que a do modelo sonhado. Porém diferente.”

Fonte: Conto Sufi- Histórias de Nasrudin -Edições Dervish