quinta-feira, 29 de julho de 2010

Em busca da libertação


Uma amiga me mandou o endereço de um site muito interessante sobre poesia - http://literaturadecamara.sites.uol.com.br/. Lá encontrei este poema. Cabe bem a quem está em busca da libertação de tantas coisas, aos quais me incluo, pobres escravos que ainda somos.

Gilvan Almeida


ESCUTA

Se pensas que não tens fuga ou saída,
permite que meus versos te encorajem.
Escuta quem já fez essa viagem,
e toma já as rédeas da tua vida.

Reclamas da existência de criado,
mas dela não escapas por temor.
Tu és o teu senhor e o teu feitor:
és tu quem te mantém escravizado.

Preferes a anonímia da manada
a erguer tua cabeça em desafio.
Por como te conduzes te avalio:
ao ser mais um apenas, tu és nada.

Tamanho é teu pavor de andar sozinho
que renovas teus grilhões a cada dia:
se pensas, atrevido, em alforria,
castigas-te a ti mesmo em pelourinho.

A algema que te impões te faz covarde.
Acorda, Zé Ninguém, que já é tarde!
Te afasta do rebanho de que és parte,
ou pasta em servidão até o abate.

Marco Túlio de Alencastro

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Gente X animais: O Gato

Patas macias, suaves e silenciosas. Expressão doméstica e encantadora, mas nas profundezas do seu instinto esconde-se um predador: os ratos (inimigos) que o digam. Persegue-os implacavelmente, e depois de destroçá-los lambe o sangue das patas e volta a ser aquele adorável animal. É livre, independente e criterioso na escolha dos amigos, daí incomodar pois não se enquadra com facilidade, não aceita coleira (submissão). Sua auto-suficiência faz parecer que é distante, metido e orgulhoso. E é mesmo. Em consonância com o sentimento atingido pode revelar garras afiadíssimas, que habitualmente estão escondidas.
Às vezes, semelhante ao gato maracajá, é meio bicho do mato, pouco sociável. É desconfiado na aproximação, especialmente se já o fizeram sofrer, daí o ditado popular: “gato escaldado tem medo de água fria”. Só quando confia é que é carinhoso e gosta de esfregar o lombo aproximando-se de leve, sem se impor, mas com medo de chutes indesejáveis. Tenha cuidado se vai mexer com ele, pois há um aviso muito respeitado sobre um parente dele que vive na floresta: “não cutucar onça com vara curta.” E não esqueça que às vezes ele é imprevisível. Você conhece gente assim?


Gilvan Almeida

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Caridade

Quando perceberes a bondade se aninhar em teu coração e surgir o desejo de servir, atendas, pois é a caridade chegando. Neste sagrado momento de sublimar o ego, compartilha os teus bens, materiais e espirituais, conduzindo esta luz sagrada que Deus nos envia, na intenção de unir os seus filhos. Se dás o que te sobra é um belo gesto. Se dás o que te pode faltar é mais belo ainda. Muitas vezes encontrarás carentes de pão, mas a carência é muito mais ampla. Com atenção e o coração desarmado perceberás que há carentes até de um olhar carinhoso, de uma mão amiga, de um ombro onde possam chorar as dores, de uma palavra que lhes traga a paz necessária.

Gilvan Almeida

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Prazeres de rebanho

Eu poderia simplesmente me entregar ao destino de ser somente um ser humano comum, desses que existem aos milhões neste país, domesticados e alienadamente felizes, sem querer nada mais do que os prazeres que qualquer rebanho tem. Mas não, não quero só isso, não me contento e nem me acomodo em ficar satisfeito só com cachaça, fazer filhos que não poderei criar com dignidade, arroz com feijão e rede Globo, o pão e o circo que nos é oferecido. Eu também quero direitos iguais, qualidade, arte, cultura e ciência, nobreza, consciência e espiritualidade, todas as condições que podem permitir a um ser humano exprimir a sua plena potencialidade e ser feliz. E isto não só para mim, quero para todos.
Não quero chegar lá na frente e ter a triste constatação que a vida passou e eu não vivi a vida que eu sonhava, que não construí, ou não me deixaram construir, a vida que eu queria, que eu apenas me deixei levar pela corrente da alienação oficial vigente, que submergi na covardia e na submissão por medo de lutar, de fazer a minha parte.


Gilvan Almeida